terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Pascoal Carneiro: "Proposta política da CTB fez a diferença nesses 5 anos"
Este mês de dezembro marca os cinco anos de fundação da CTB. Para o secretário-geral da entidade, Pascoal Carneiro, o balanço desse período é bastante positivo por vários aspectos. Para ele, no entanto, um desses aspectos se destaca: a proposta política defendida e colocada em prática pela Central desde seu primeiro dia de existência.
“Nossa ação política se baseia em alguns princípios fundamentais. Primeiro: unidade; segundo: defesa de uma política nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho. Esses dois pilares deram à CTB esses frutos que estamos colhendo agora”, afirma o dirigente.
Nesta entrevista, o metalúrgico baiano Pascoal Carneiro faz um balanço a respeito de diversas áreas de atuação da entidade: sua organização nos estados, o papel desempenhado pelo sindicalismo rural, a inserção internacional conquistada pelos classistas, a importância da Conclat e, em um exercício de análise conjuntural, vislumbra como estará a CTB daqui a cinco anos, quando completar uma década de existência.
Confira abaixo:
Portal CTB: O balanço que se faz a respeito dos cinco anos da CTB é positivo, sem dúvida. O que fez a diferença nessa trajetória?
Pascoal Carneiro: O que fez a diferença foi a proposta política da CTB. Nossa ação política se baseia em alguns princípios fundamentais. Primeiro: unidade; segundo: defesa de uma política nacional de desenvolvimento, com valorização do trabalho. Esses dois pilares deram à CTB esses frutos que estamos colhendo agora. Hoje já temos quase mil sindicatos filiados e estamos organizados em todos os 27 estados da Federação, com sindicatos filiados em todos eles. Essa política de unidade e sua ação interna, em busca da unidade de ação do movimento sindical como um todo, nos levou a ser essa força pujante.
Por esse aspecto, o que mais a gente sente no movimento sindical é a defesa da unicidade. E hoje podemos dizer que a CTB é a central que mais defende essa bandeira. Na prática do dia a dia, em suas ações políticas, em seu discurso e nas discussões com as demais centrais. Isso para nós hoje é uma ferramenta importante, que foi bombardeada há um tempo por outras forças.
Pensando nesses cinco anos, é possível dizer que a segunda Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) representou o auge da política de unidade de ação entre as centrais?
Ela foi o ápice, sem dúvida. Lá é que conseguimos unificar vários pontos de nossa pauta, em torno de uma plataforma que se transformou na Agenda da Classe Trabalhadora. Para citar alguns desses pontos, podemos falar da redução da jornada de trabalho, a luta pelo fim do fator previdenciário, a valorização das aposentadorias e a permanência da política de valorização do salário mínimo. Essa concepção de unidade da Conclat foi uma proposta defendida pela CTB. Isso é algo que faz parte de nossa política mais geral. A Conclat veio coroar essa defesa que fazemos junto às demais forças do movimento sindical.
A partir dessa perspectiva de luta, qual foi o papel do 1º Conselho Nacional da CTB, realizado em 2011?
Outro fator importante dentro da CTB é o respeito que temos às decisões aprovadas em nosso Congresso de fundação. Naquela ocasião, aprovamos um estatuto democrático e amplo, que nos dá ferramentas para dar unidade interna à Central. E respeitamos muito isso. No 1º Conselho é que definimos a necessidade de uma política de crescimento econômico com valorização do trabalho – o centro de nossas discussões, naquela ocasião, foi exatamente esse. Foi a partir de então que saímos com ferramentas importantes para atuar na sociedade em geral, para negociar aquilo que acreditamos.
Você falou da presença da CTB nos 27 estados. Sabemos que alguns ainda têm certas dificuldades de atuação. Como lidar com isso daqui para frente?
Teremos agora em 2013 nosso 3º Congresso. Nossa ideia é fazer um raio-x de estado por estado. Em nossa pauta entrará a avaliação da CTB nacional e também nos estados. Além dos estados fazerem sua avaliação sobre sua situação local, a direção e os delegados também colocarão o dedo onde há problemas.
Nesse balanço de cinco anos, como você avalia o papel que os sindicatos rurais passaram a ter na CTB e a perspectiva de novas filiações?
Estamos próximos de mais um congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Estamos tratando esse evento com muito carinho. Como já é sabido, não iremos propor a filiação da Contag à CTB, exatamente para que a unidade seja mantida na entidade. Mas estamos acompanhando de perto cada uma das plenárias estaduais que estão sendo realizadas com vistas ao congresso, marcado para março de 2013.
Hoje, as maiores federações de trabalhadores e trabalhadoras rurais são filiadas à CTB. Podemos citar as três maiores (Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais), mas não podemos deixar de citar outras entidades que também são filiadas à CTB, como São Paulo, Mato Grosso, Sergipe, Santa Catarina e Acre. Então, podemos dizer que a CTB vem crescendo no movimento sindical rural em função dessa política ampla. E o que mais tem permeado o crescimento da CTB nesse setor é a defesa da reforma agrária, a busca por assistência técnica para os assentamentos e, fundamentalmente, a unicidade sindical no campo, pois existem outras centrais querendo dividir os trabalhadores rurais, dando outros nomes para seus sindicatos. E nós dizemos o seguinte: o fruto da terra deve ser colhido por quem nela trabalha. E nesse sentido é preciso manter o velho nome de “sindicato de trabalhadores rurais”, independente da função que ele exerça na economia produtiva do campo. Isso e o respeito que temos à Contag nos fez crescer.
Sobre a inserção da CTB no sindicalismo internacional, qual sua avaliação? Qual a importância política desse cenário atual?
Quando a CTB foi fundada, talvez por sorte nossa a América Latina já estava em uma onda de governos de esquerda, contrária às políticas neoliberais que dominaram o continente. Por outro lado, as centrais sindicais brasileiras costumam atuar, em caráter internacional, mais voltadas aos organismos multilaterais, em geral criados pela burguesia e pelo capital, cuja função é manter o status quo e defender o capital, nunca o trabalho.
A CTB optou por outro caminho: fazer um debate consequente com as centrais sindicais na América Latina e no mundo, mas buscando sempre a defesa dos direitos da classe trabalhadora. A participação da CTB nos organismos multilaterais é muito pequena, pois preferimos nos articular diretamente com outras centrais sindicais. Isso fez com que a CTB se fortalecesse no movimento sindical internacional. Hoje, com cinco anos de existência, somos muito respeitados pelo mundo afora. Isso pode ser constatado tanto por nossa participação no Encontro Sindical Nossa América (ESNA) quanto por nossa atuação na Federação Sindical Mundial (FSM). Não por acaso, logo no primeiro congresso internacional que a CTB participou obtivemos uma das vice-presidências da FSM. Portanto, a ocupação do espaço que a CTB faz hoje no cenário internacional se dá a partir de políticas de defesa de um movimento sindical forte, atuante e combativo.
Como você imagina a CTB e o movimento sindical brasileiro daqui a cinco anos? Que tipo de avaliação é possível fazer, a partir de seu conhecimento nesse setor?
Se formos analisar o movimento sindical, vemos que há um debate entre alguns acadêmicos atrasados (defensores da ideia de que não temos um papel político) e outros, mais progressistas, que dizem que os sindicatos, desde seu surgimento, já fazem e estão inseridos na política. E em política não existe espaço vazio. A CTB precisa saber como ocupar esses espaços, para daqui a cinco anos ser a central hegemônica dentro do movimento sindical brasileiro.
Essa hegemonia não significa dizer que a CTB quer exclusividade, mas sim ocupar seu papel na sociedade, em defesa de uma classe operária combativa. Se formos ver, o movimento sindical no Brasil e no mundo estão diante de um cenário complicado: o operário ganha o suficiente para a sobrevivência e o capital fica com tudo na mão, para enriquecer cada vez mais. Parece que o movimento sindical se esquecer de que existe a mais-valia.
A CTB tem que começar a discutir o papel dos operários e dizer que não estamos contentes com esse cenário. Não estamos contentes com as atuais relações de trabalho. Precisamos dar um passo adiante nisso, para que o protagonismo seja dos trabalhadores. Se conseguirmos fazer isso, em cinco anos poderemos ser a principal central sindical do Brasil.
Fernando Damasceno – Portal CTB
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